segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Eu também tive um sonho

Sonhei
Sonhei que as pessoas sorriam
Que davam as mãos
Que se encontravam
No amor.

Sonhei
Sonhei com um mundo azul
Em que as raças
E os credos
Viviam em harmonia
No caminho da paz.

Sonhei
Sonhei que todos éramos iguais
Que viviamos em liberdade
Em que um homem
Não era escravo do outro.

Sonhei
Sonhei com campos floridos
Com regatos de água pura
Com odores perfumados
De uma terra que brotava vida.

Sonhei
Sonhei que era um pássaro
Deitado no vento que passa
Cantando a boa nova
O mundo é uma criança.

Sonhei
Sonhei!...
Mas quando acordei
Um sonho assim tão belo
Perdeu-se no pesadelo.


José Bravo Rosa

Mudança

Mudança
É libertar-se
É soltar o grito
Reprimido
É tornar o sonho
Realidade.

Mudança
É chamar alguém
Pelo nome
É abraçar um amigo
É manter-se acordado
É enfrentar o perigo.

Mudança
É caminhar por labirintos
É saltar encruzilhadas
É voar ao sabor do vento
É descobrir madrugadas.

Mudança
É virar à esquerda
E não virar à direita
É percorrer uma estrada
Sem um final à vista
É pensar
Não pensando
É sofrer
Não sofrendo.

Mudança
É uma roda gigante
Traz os de cima
Para baixo
E leva os de baixo
Para cima
É um salto
No trapézio
É um palhaço
Que chora.

Mudança
É amar
É ficar nú
É despir-se de preconceitos.

Mudança
É rir
É cantar
É chorar
E também é morrer.


José Bravo Rosa

Natal


Natal


Natal
É luz
É nascimento.
É um ribombar de foguetes
É uma explosão de vida.


Natal
É expressar sentimentos
É emoção desmedida.
É soltar o amor
É uma esperança que fica.


Natal
É criança
É homem
É gente.
É também sol nascente.


Natal
É um viver no presente
É um voar no futuro
É soltar um sorriso
É a queda de um muro.


Natal
É arvore
É natureza.
É água
É ar
É espírito.


Natal
É não sermos somente
Um entre mais gente


José Bravo Rosa

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Encontro com a cidade


C. L. C.


Encontro com a Cidade

Quem nunca se sentiu atraído pela cidade? Especialmente quem vive no campo.
Aquele gigante, de veias labirínticas e artérias largas, por onde a vida flui, atrai-
nos para o seu interior, fazendo-nos interagir na sua permanente digestão.
Caí na cidade, como quem cai de paraquedas em terreno desconhecido, tudo á minha volta, fascina-me, atrai-me num rodopio de cores que me fazem lembrar o arco íris. Tudo, na cidade, funciona a uma velocidade estonteante. Ruídos que se misturam em
unissono com sussurros humanos. O chiar dos ferros, a borracha a esfregar o alcatrão,
as buzinas em surdina, abafam as vozes gritantes, para se fazerem entender, das pessoas que passam num ritmo acelerado. Odores intensos, acres, misturam-se-me nas narinas causando-me um ligeiro sufoco e um lacrimejar nos olhos, fazendo-me perder, por vezes, o sentido de orientação.
Proponho-me a atravessar a avenida, mas o vento quente e sufocante, provocado pela
velocidade e escapes dos carros, esbofeteia-me, empurrando-me para trás. Opto, então, por percorrer a avenida em direcção ao hotel, olhando a tudo á minha volta, as luzes,
os néons publicitários, as fachadas das casas centenárias envoltas por um nevoeiro
artificial que se instalou na cidade.
Uma multidão de rostos, cansados, com olhares distantes, hipnóticos, sobem e descem
a avenida num caminhar rápido e sem nexo percorrendo todo aquele labirinto que é a
cidade.
Mais á frente, neste meu caminhar deslumbrado, deparo-me com dois corpos que jagem inertes deitados num colchão roto pelo uso, passava gente e mais gente e nada.
O surrealismo da cena tornava invisível o quadro. Ao deparar-me com esta imagem
veio-me á mente uma citação de Eça de Queiroz em a cidade e as serras “ Os sentimen-
tos mais genuinamente humanos logo na cidade se desumanizam “
A noite chegou, num abraço cinzento, envolvendo o dia artificial que se me deparava.
Sentia-me, cansado, não fisicamente mas moralmente, pois estava a cair em mim, via agora, claramente, que a ideia que tinha da cidade estava a tornar-se numa desilusão,
numa absorção de sentimentos negativos, onde tudo parece mas não é. Continuei, mais
rostos sedentos de chegada, cruzavam-se comigo, com olhares longínquos, apáticos,
cansados pelo longo dia de movimentos dispersos, cujo o único objectivo é a sua chegada ao porto de abrigo, ao descanso do guerreiro, porque viver, hoje, numa cidade é
sinónimo de uma luta constante pela sobrevivência. Sentia-me sozinho entre gente.
Estava-me a tornar em mais um rosto entre os rostos quando, de repente, fui assediado
por ofertas de prazer em circunstancias desumanas, ali, no centro da avenida, cheia de
néons e hotéis de luxo. Aqui como dizia o nosso Eça em a cidade e as serras “ O homem
pensa ter na cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua
miséria.”
A cidade não dorme simplesmente passa pelas brasas, o tempo é o seu denominador
comum, o relógio um ditador.
As pessoas vivem numa liberdade ilusória, condicionadas por uma utopia de riquezas
materiais, onde o dinheiro se sobrepõe ao seu bem estar físico e moral.
O ruído das sirenes dos carros da policia fizeram-me aperceber da insegurança em que me encontrava, apressei o passo em direcção ao hotel, desejando que a noite passa-se rápida para voltar á minha terra no Alentejo, onde o tempo passa devagar, onde o relógio é quase um mero instrumento de adorno, onde as pessoas não são só rostos,
onde o dinheiro importa mas não domina.
A cidade tem toda uma panóplia de atracções, hipnotiza-nos com toda a sua cultura
e história. Mas só o campo nos humaniza.






José Bravo Rosa

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Feira de Castro

Multidão
De movimentos dispersos
Que convergem
No mesmo local.

Vozes que ecoam
Entre
Ruídos compactos.

Odores
Que se misturam
Nos sentidos
Dos que os seguem.

Encontros
De gentes simples
Famintas de palavras.

Crianças
Num choro
Replecto de felicidade.

Panóplia de cores
Que ofuscam
O arco-íris.

Silhuetas
Que se escondem
Na penumbra
Na espera
Do mais incauto.

Caminhos
Que se cruzam
E acabam no inicio.

Faça sol, chuva ou vento
Não importa o tempo
Porque, tudo isto é!...
A feira de Castro.


José Bravo Rosa





domingo, 19 de julho de 2009

A importância da mini na construção civil


A importância da “Mini” na construção civil.


O que seria da construção civil sem este objecto de culto. É raro encontrar-se uma casa em construção, em que não nos deparemos, constantemente, com umas quantas garrafas vazias espalhadas pelo chão e nos mais variados lugares. Não existe nenhuma abertura de caboucos que não seja contemplada com várias taras perdidas, no seu leito de cimento. Sinais de uma geração de homens duros, torneados nos próprios ferros que se erguem e fortalecem uma construção. Moldados por frios intensos e calores abrasadores.
Beber umas minis é hoje quase como se de um ritual se tratasse. As minis bebidas ás dez horas da manhã, são sagradas, o trabalho não corre bem se faltar esse elixir, esse liquido dourado e fresco que não só sacia a sede, como dá azo a alguns dedos de conversa de caris sexual, sobre as meninas que passam na rua em frente. Quando, rara-
mente, se acaba esse precioso líquido, está sempre alguém pronto a fazer a viagem, independentemente da distancia, até ao sitio onde se encontra a preciosa fonte.
Pode faltar o cimento, os ferros, os azulejos e até o próprio patrão, não interessa, porque o mais importante é que não faltem as minis.
Chegada a hora de almoço é sempre obrigatório, uma passagem no café mais próximo para tomar o aperitivo. Entre uns tremoços e uns amendoins, lá escorregam mais duas ou três minis, dependendo das pessoas que ali se encontrem.
Ai do pobre homem que mande fazer obras em casa e deixe acabar as minis no frigorifico, tem de arranjar uma boa desculpa para não ser penalizado, alem de ofensas verbais, nas suas costas, está sujeito a que as obras sofram algumas alterações, coisa que não se emende com algumas minis.
No final da tarde, os corpos cansados, suados, doridos pelo esforço físico, rogam o merecido descanso. Lá ao fundo uma voz, cansada, tenta sobressair entre o ruído do arrumo das ferramentas: Quem é que paga umas minis? Ali não importa quem paga, o importante é beber.
No final da tarde, por vezes o ritual, prolongasse até ao jantar, dependendo dos amigos que vão chegando, do petisco que houver, ou do jogo de futebol que estiver a passar na televisão.
Hoje, quando se pede um orçamento a um pedreiro, existe uma clausula nas entrelinhas, em que as minis já vêm incluídas.
No dia seguinte, logo pela manhã, alguém pergunta: Não se esqueceram das minis, pois não?



José Bravo Rosa

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Tabernas de Castro Verde


Lugares ancestrais de conhecimento e cultura. Rituais sociais, onde o vinho desinibe e fomenta as longas conversas entre as várias culturas. Ali, entre aqueles odores acres e adocicados, entre um copo e outro, fez-se o menino homem. Ali, enxuga-se a alma e esquecem-se por momentos os dissabores da vida.
As tabernas são lugares sagrados, religiosos, também compostos por mandamentos, onde o sangue de Cristo é tomado por todos religiosamente. Onde os sermões são dados com sabedoria, utilizando, quase sempre, as palavras certas para o momento.
Fala-se do Ti António que morreu do coração, do Ti João que morreu de cancro, mas ali, não se houve falar que alguém morreu por causas do vinho, porque ali, o vinho é um elixir, um antídoto para todos os males. “Diz-se que até mata os bichos.”
Ali não existe stress, entre uma rodela de linguiça e uma lasca de presunto também o colesterol é esquecido.
Por fim, quando as pernas não obedecem e o andar se torna desequilibrado, culpa-se sempre o ultimo copo. Mas existe sempre um amigo pronto a levar-nos a casa.
As tabernas são escolas de vida de saberes populares onde o cante marca o compasso.
Vale a pena fazer-lhes uma visita.


João das Cabeças ( Rua da Aclamação )

Tio Virgílio ( Rua Sacadura Cabral )

João Rosa ( Rua das Cangas )








José Bravo Rosa

terça-feira, 7 de julho de 2009

Uma pérola em campos de oiro

Avista-se ao longe, deitada na planície, dormitando entre flores silvestres na primavera do campo branco. Vila pequena, situada no interior do Baixo Alentejo no Distrito de Beja.
Terra de tradições centenárias, de cante, de poesia e de saberes populares.

Castro Verde é uma vila em que o seu passado sempre esteve virado para o futuro. Aqui, a cultura bebe-se, saboreia-se, envolve-nos constantemente, todos os dias do ano.
As actividades culturais são muitas e variadas, abrangem todas e as mais diversas áreas culturais.
A câmara Municipal, como pólo organizador destes eventos, tem sido incansável nesta ponte, entre o que se faz de melhor na grande cidade e o trabalho que é feito para que as pessoas tenham acesso aos mesmos.