O amor É somente o que resta De uma grande paixão. É acalmia Depois de uma alvorada. É porto de abrigo Depois da borrasca. É o silêncio Do grito da carne. É pele que repousa Depois de arder. O amor Também é presença Na ausência que fica Depois da paixão.
Fui parido Da terra nua Como semente jogada ao vento Que nasce selvagem E bela. Sou flor na primavera Em Abril Das aguas mil. Sou planície Verdejante De beleza imensurável. Até onde meus olhos cegam. Ondas de roxo se elevam Entre brancos e amarelos Desmaiando por fim Nos vermelhos Em salpicos de alecrim. Sou regatos de água pura Onde os loendros se banham Sou carvalhinho perfumado Por amores procurado. Sou vento, brisa e chuva Sou terreno enlameado. Sou senda, caminho, estrada Fonte de água gelada. Dias ensolarados E fresco da madrugada. Pássaros de negro vestidos Em rodopios de azul. Passarola voadora Em seu alto pedestal Sou o gemer da azinheira Curvada sob seu peso. Sou monte velho, caído Onde o vento uiva e grita Na sombra da solidão. Sou a terra que dava o pão. Sou feito de lágrimas e suor Sou dor de quem já sofreu. Nas entranhas da terra dura. Sou de grande formosura Nesta estação primaveril. Cheiros! São mais de mil As cores! Do arco-íris. Este, sim! É o Alentejo que sou. E não o que dizem ser.
Viajei À velocidade da luz Pelo cosmos Da tua existência. Percorri galáxias De dor. Buracos negros De vazio interior. Nebulosas de solidão. Estrelas de fraca luz. Planetas moribundos. Até cheguei a fingir dor Para melhor me adaptar A esse teu espaço profundo.
Deixei pegadas Vincadas na areia molhada. Vestígios pré-históricos Da longa espera. Sinais De existência humana. Que reclama o espectro Da paixão que tarda em chegar Que o mar ainda não trouxe. Esse mar que tanto amei E a quem dei O sal das minhas lágrimas. Esse mar que seduzi E transformei em carne Em sonhos húmidos De paixão. Reclamo essa parte Que me transcende Essa outra metade De mim. Essa luz divina Que me enaltece Esse nascer do sol Que me aquece. Espero que o mar Se não te trouxer Se transforme em aguas mansas Perdendo toda a sua grandeza. E levando com ele no final Todas as minhas pegadas.
Procurei O Arco-íris E pedi-lhe todas as cores Para pintar o teu retrato. Ao qual ele me respondeu! Será esse retrato teu Mais importante do que eu?! Eu que coroo a terra de cores! Eu que vivo no sonho das crianças! Eu que indico o local de todas as riquezas! E é esse teu retrato assim tão exuberante?! É, tenho a certeza que é. Eu não lhe conheço o rosto! Mas conheço-lhe a alma.
Sou uma sombra Que passa E que na penumbra se prolonga Para lá do meu gélido túmulo. Nesta noite vestida de trevas Onde a lua, soberba, se veste de branco puro.
Sou destino marcado. Sou senda infinita. Parido das brumas do tempo. Sou morte do nada que sou.
Sou estrangulamento Da luz que brilha altiva. Deito-me na terra barrenta Na terra que me abraçou. Deixo-me ir com o vento O vento que por ali passou. Disperso pelo universo Esse universo que sou.
Dessa alma que persiste Em não perceber que existe.
As pedras da calçada Conhecem-me pelos passos. Até me tratam por tu. E sussurram-me em uníssono Olá Josééééé… É o déjà-vu diário. E é este o meu mundo físico! O mundo que eu não escolhi.
Quem sou eu?
Aquele?
O Outro?
Serei o triste?
O risonho?
O pobre?
O rico?
O amado?
O odiado?
O incompreendido?
O desgraçado?
O sem abrigo?
O pedinte?
O rejeitado?
Serei o enviado?
Serei um Deus?!
Afinal, quem sou eu?!
Serei todos?!
Ou nenhum?
" Todos os trabalhos aqui postados são de minha autoria "