O tempo Cercou-me Num abraço apertado, Asfixiante, E chorou. Chorou sobre as minhas velhas feridas Cicatrizadas na alma. Chorou Sobre a solidão Minha companheira Nas longas noites. Chorou Sobre um horizonte Sem azul Que me limita a visão E onde a penumbra É o meu céu. Chorou Sobre os socalcos Do meu rosto Entre rasgos de sofrimento E desertos de emoções. E, por fim, chorou Da desumanidade Que ele, o tempo, Fez ao homem.
Caio Na noite Onde não há sombras. Filtro-me na escuridão Como quem rouba. Grito!... Grito em silêncio As minhas mágoas. Vomito o álcool Do esquecimento. E aconchego-me Na solidão de mais um dia.
Pintei Pintei de vermelho A abóbada celeste. E logo caíram, Em cascata, Lágrimas de sangue. Formou-se, No horizonte humano, Um arco-íris De silêncio. Onde não existe memória. Onde nada faz sentido. E onde a morte se presenteia.
Por vezes Sinto-me Só alma E não pessoa. E sigo Por entre gentes Invisível. Deixo Meu pranto Em cada canto. Percorro Meu céu Como quem voa. Esfumo-me Na penumbra Das eras Onde nasce O homem novo.
Voo Nas asas do vento Para além do horizonte. Deixo terra Deixo gente Amores?! Deixo certamente. Nostalgia Terei sempre Neste meu voo De solidão. Embarco Nesta utopia Se o estar longe Me alivia Me traz A felicidade Ou não!
Envolvi-me Em mar revolto Desfiz-me Em branco sal. De lágrimas Maré-cheia De saudades Grãos de areia. Onde o sonho Rasga a lua Na escuridão do espaço Perco-me Num grande abraço De pedras, cinzas e nada. Procuro Sorrisos nas nuvens De negro choro vestidas. Procuro Nas despedidas O calor de um sol morno Que me aqueça O gélido oceano Que povoa minha alma. Procuro no horizonte A calma Para quem sofre em agonia Fecho-me na nostalgia Dos momentos Em que me perdia Em campos verdes de sol. Que em teus olhos reflectia Um arco - iris de amor. Vivo preso nesta dor E fiz da solidão o meu mundo Perdi-me nas brumas do tempo Na terra do sol poente. Espero um dia a madrugada.
Ontem à noite Fiz amor com a morte. Vejam que sorte! Um, num milhão. E não é uma opção! É uma questão De vida ou de morte. Dar-lhe prazer Antes de morrer É um apanágio De quem quer viver. De negro vestida Dizem as gentes De foice na mão Dizem os crentes. Mas na intimidade! Deixa saudade.
Chorei Chorei lágrimas de azul marinho. O azul dos teus olhos. Transparentes Como gotas de agua pura. Belos, Intensos E cheios de amor. Só voltarei a chorar Quando o horizonte te trouxer.
Penetro Morosamente Na terra mãe. Como se me afunda-se Em areias movediças. Lentamente, Fundo-me com ela. Deixo de ser gente Para ser terra. Sublime prazer De uma metamorfose Que exalta os sentidos De quem morre Para dar vida. E eis chegada A primavera.
Quero sentir A eterna dor de amar. Amar aqui e além, Não importa quem, Só pelo prazer de amar.
Quero ser escravo do amor De onde não me quero libertar. Quero amar O sol, a lua, A terra, o mar. Quero amar Só por amar.
Quero amar Esse teu sorriso Feito de primaveras. Deixar-me levar por quimeras Embriagadas de paixão Num paraíso feito sonhos. Mas, sobretudo, quero amar.
Quero amar A solidão Para onde convergem as palavras De que é feito poema. Quero amar A melancolia De que são feitos os meus dias. Amar Também a tristeza O sorriso de Mona Lisa. A silhueta que passa Que não se quer reconhecida.
Quero amar, A quem me ama, A quem me trai, A quem me engana. Quero amar a esperança De um dia o homem mudar. Quero um dia amar a morte Quando não poder mais amar. Mas quero deixar o amor No coração de quem sofre Ser uma estrela que brilha Naquelas noites mais escuras.
Existe um código Em que as palavras Se transformam em símbolos. Um código de amor. Que deturpa Toda a veracidade Das emoções E que as transforma Em armadilhas dos sentimentos. Em que o abismo Se encontra à nossa frente. E nós saltamos! Saltamos para o vazio. Para o desconhecido De nós mesmos. E sentimo-nos bem! Seguros na nossa ilusão De bem estar. É esse silêncio enganador, Esse momento hipnótico, Que nos limita. Que nos amordaça o grito De libertação da alma. Fazendo com que as palavras Não façam sentido. E nos levem ao limiar De um irrealismo Subjacente a toda uma panóplia De momentos abstractos Projectados pela mente. Que nos transformam, simplesmente, Nos humanos que somos. Dependentes do amor.
Tenho a certeza De que seria mais feliz Se deixasse de ser eu. Se não carregasse Todo este peso do mundo. Se não olhasse Mais além Do que a vista alcança. Se não conseguisse Ler nas entrelinhas Do óbvio. Se conseguisse dizer, simplesmente, O céu é azul, O mar é imenso, A terra é gigante. Se me limita-se À passagem do tempo. À reprodução da espécie. Ao narcisismo da sociedade. À obediência do grupo. Talvez vivendo Nesta eterna cegueira Fosse eu Um outro mais feliz.
Trespassei O coração da rosa Com o seu próprio espinho. Um liquido carmim Jorrou Das pétalas brancas De seda pura. Uma lágrima De orvalho Silenciou a dor E caiu no vazio De tamanha beleza Feita de espinhos.
O amor É somente o que resta De uma grande paixão. É acalmia Depois de uma alvorada. É porto de abrigo Depois da borrasca. É o silêncio Do grito da carne. É pele que repousa Depois de arder. O amor Também é presença Na ausência que fica Depois da paixão.
Fui parido Da terra nua Como semente jogada ao vento Que nasce selvagem E bela. Sou flor na primavera Em Abril Das aguas mil. Sou planície Verdejante De beleza imensurável. Até onde meus olhos cegam. Ondas de roxo se elevam Entre brancos e amarelos Desmaiando por fim Nos vermelhos Em salpicos de alecrim. Sou regatos de água pura Onde os loendros se banham Sou carvalhinho perfumado Por amores procurado. Sou vento, brisa e chuva Sou terreno enlameado. Sou senda, caminho, estrada Fonte de água gelada. Dias ensolarados E fresco da madrugada. Pássaros de negro vestidos Em rodopios de azul. Passarola voadora Em seu alto pedestal Sou o gemer da azinheira Curvada sob seu peso. Sou monte velho, caído Onde o vento uiva e grita Na sombra da solidão. Sou a terra que dava o pão. Sou feito de lágrimas e suor Sou dor de quem já sofreu. Nas entranhas da terra dura. Sou de grande formosura Nesta estação primaveril. Cheiros! São mais de mil As cores! Do arco-íris. Este, sim! É o Alentejo que sou. E não o que dizem ser.
Viajei À velocidade da luz Pelo cosmos Da tua existência. Percorri galáxias De dor. Buracos negros De vazio interior. Nebulosas de solidão. Estrelas de fraca luz. Planetas moribundos. Até cheguei a fingir dor Para melhor me adaptar A esse teu espaço profundo.
Deixei pegadas Vincadas na areia molhada. Vestígios pré-históricos Da longa espera. Sinais De existência humana. Que reclama o espectro Da paixão que tarda em chegar Que o mar ainda não trouxe. Esse mar que tanto amei E a quem dei O sal das minhas lágrimas. Esse mar que seduzi E transformei em carne Em sonhos húmidos De paixão. Reclamo essa parte Que me transcende Essa outra metade De mim. Essa luz divina Que me enaltece Esse nascer do sol Que me aquece. Espero que o mar Se não te trouxer Se transforme em aguas mansas Perdendo toda a sua grandeza. E levando com ele no final Todas as minhas pegadas.
Procurei O Arco-íris E pedi-lhe todas as cores Para pintar o teu retrato. Ao qual ele me respondeu! Será esse retrato teu Mais importante do que eu?! Eu que coroo a terra de cores! Eu que vivo no sonho das crianças! Eu que indico o local de todas as riquezas! E é esse teu retrato assim tão exuberante?! É, tenho a certeza que é. Eu não lhe conheço o rosto! Mas conheço-lhe a alma.
Sou uma sombra Que passa E que na penumbra se prolonga Para lá do meu gélido túmulo. Nesta noite vestida de trevas Onde a lua, soberba, se veste de branco puro.
Sou destino marcado. Sou senda infinita. Parido das brumas do tempo. Sou morte do nada que sou.
Sou estrangulamento Da luz que brilha altiva. Deito-me na terra barrenta Na terra que me abraçou. Deixo-me ir com o vento O vento que por ali passou. Disperso pelo universo Esse universo que sou.
Dessa alma que persiste Em não perceber que existe.
As pedras da calçada Conhecem-me pelos passos. Até me tratam por tu. E sussurram-me em uníssono Olá Josééééé… É o déjà-vu diário. E é este o meu mundo físico! O mundo que eu não escolhi.
Guardei!... Guardei na cave fria e húmida, Numa mala velha e sofrida. Onde os bichos, hoje, dormem. Retalhos da minha vida. Tranquei a porta, Joguei fora a chave E comecei tudo de novo!
O amor É sinónimo de vazio. Tudo o que antes parecia importante Deixa de o ser! O passado e o futuro, Convergem para o presente. Nada!... Mas nada faz sentido! As pernas carregam, cambaleantes, A cabeça e o tronco Embriagados pelas emoções do momento. As palavras!... As palavras tornam-se flechas, Que rasgam o ar em todas as direcções Na procura do desejado alvo. Aqui, o cupido! Deixa de fazer sentido. Tudo se resume A um abstracto de emoções. À ponta do cordel Do novelo do amor. O começo de um caminho No labirinto da vida. E também o doce momento Onde tudo recomeça.
Sinto-me só Entre gente! Entrego-me à ousadia De ouvir os sons do silêncio. Procuro nesta solidão do momento A música de tua dança. Que me acalma os sentidos Desta dor de ausência. Ausência de tudo e de todos Até deste corpo que habito, Deste sussurro, deste grito… Da nostalgia dos meus dias De onde escorre A negra noite. Ainda que por muito me afoite Caminhar, nas brumas do que sou, Desvendar os seus segredos. Regresso para onde vou. À música de tua dança. Que povoa e exalta em mim Os sons do silêncio!
Hoje… Eu só queria Perceber o motivo porque existo! Descobrir caminhos Que me levem à verdade… Ou não?! Metamorfosear-me No vento que passa E na chuva que cai. No sol e no mar. E navegar!... Navegar sem rumo aparente. Sem passado, Sem futuro, Nem presente. Rumo ao longínquo horizonte. Desta existência Que procuro… Ou não?!
Escondo-me nas palavras Do que disse E não disse. Acobardo-me Do que nunca te direi. Faço dos meus dias A minha penitencia. E das noites A escuridão da minha alma. Hoje vivo…somente… Das migalhas da tua presença!...
A linha curva Da terra Invisível se torna. Nas curvas femininas De um corpo magnetizado De êxtase e sedução. Iluminado Por uma lua metálica Abraçada Por uma noite lilás.
Recorde-se Um dia De chamar por mim. Não para me criticar, Não para me julgar, Mas simplesmente... Para me olhar. Basta!... Basta De palavras supérfluas!...
Sinto! A nostalgia das sombras Deitada a meu lado. Percorro o caminho da noite Feito de cardos. Lanço facas Ao abismo do acaso. Deito-me, embalado, Na bandeira da guerra E deixo-me levar… E tudo porquê!? Porque, hoje, sinto-me feito de nadas…
Quem sou eu?
Aquele?
O Outro?
Serei o triste?
O risonho?
O pobre?
O rico?
O amado?
O odiado?
O incompreendido?
O desgraçado?
O sem abrigo?
O pedinte?
O rejeitado?
Serei o enviado?
Serei um Deus?!
Afinal, quem sou eu?!
Serei todos?!
Ou nenhum?
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